O BUDISMO E AS PSICOTERAPIAS
O
reencontro entre diferentes modos de ver o mundo e a
realidade vem permitindo um (re)conhecimento de
psicoterapias milenares legadas pela sabedoria oriental.
Questão de moda conjuntural ou sincera aquisição e
experimentação de outros recursos e mais-valias
pessoais, importa é a verificação desses intercâmbios
entre culturas no seio da comunidade académica e
instituições científicas.
Foi
o que sucedeu, recentemente, na Austrália, em Camberra,
no decurso de uma conferência intitulada “Ciência e
Mente”, que teve a presença do Dalai Lama. Um dos
temas que mais aliciou os participantes foi apresentado
por Jack Pittigrew, um renomado fisiologista
australiano: uma técnica de auto-anestesia, chamada
Thong Len, descrita no “Livro Tibetano dos Vivos e dos
Mortos”.
O
investigador confessou à audiência o seu espanto ao
usar, nele próprio, há alguns anos, a referida técnica
para aliviar as dores de uma queimadura numa das mãos.
“Foi como se injectasse em si um anestésico –
descreveu o especialista. O Thong Len consiste apenas em
imaginarmos a dor de alguém, como uma queimadura, e
dirigi-la para nós. À medida que nos vamos apropriando
da dor de alguém, a nossa própria dor desaparece”.
Segundo
Jack Pittgrew, praticante diário e constante deste
recurso meditativo, o efeito é mais notório do que o
uso de um anestésico. Pacientes em contacto com um
praticante de Thong Len acham essa técnica ainda mais
efectiva. Como se explica este efeito? Os cientistas não
sabem, mas reconhecem a sua eficácia.
Para
este fisiologista, a Ciência ocidental podia aprofundar
o uso destas técnicas meditativas para explorar de que
forma o nosso cérebro actua e pode fornecer ajuda a
quem necessita. Estas práticas tibetanas têm sido, nos
últimos anos, sujeitas a testes laboratoriais com
equipamento sofisticado.
Um
dos mais reputados neurologistas mundiais, Max Bennett,
da Universidade de Sideney, aceita que há um crescente
interesse pelas descobertas empíricas tibetanas.
O problema é que os investigadores ocidentais,
ainda que as considerem válidas, não conhecem ainda os
seus modelos explicativos. Por exemplo, há já
cientistas que aplicam a estimulação magnética
transcranial, como possível alívio em crises
cerebrais, mas sem terem a mínima pista sobre a relação
causa-efeito. Seja qual for a margem de ignorância que ainda resiste, aumenta a convicção de que é legítimo esperar resultados inovadores na exploração da confluência entre as tradições orientais e a Ciência ocidental contemporânea.
* Docente e investigador universitário
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