A história
do Conhecimento tem mostrado, repetidamente, que muitas
das mais relevantes descobertas científicas foram
ignoradas e refutadas na sua época pelos contemporâneos.
Por esse motivo, os investigadores que tentam questionar
e resolver problemas novos, nos limites do saber
estabelecido, não raro defrontam obstáculos extraordinários
ao progresso da sua inquirição. Em universidades de
reputação inquestionável, como as de Stanford,
Harvard,
Princeton, Nevada ou Temple, nos Estados Unidos, e
Edimburgo, Amesterdão e Utrech, na Europa - apenas para
citar alguns exemplos - desde os anos 80 do século XX,
começaram a acolher no seu interior grupos de académicos,
cientistas e professores, de diferentes áreas e
sensibilidades, para coordenar, analisar e testar toda a
informação relativa a domínios inexplorados da experiência
e da consciência humanas, dos "universos"
interiores aos exteriores, e nas relações entre as
dimensões macrocósmicas e microscópicas. A este
movimento vem associar-se o CTEC, através de
iniciativas ao nível da formação e, em especial, por
reuniões científicas como os Simpósios Internacionais
dedicado às "Fronteiras da Ciência" que a
Universidade Fernando Pessoa acolheu com assinalável êxito
nos anos de 1997 e 2001 e o mais recente Fórum
Internacional "Ciência, Religião e Consciência",
que decorreu entre 23 e 25 de Outubro de 2003. A
receptividade obtida neste encontros confirmam o
crescendo impacto que os domínios da Consciência, do
Espírito e das relações e implicações com as
disciplinas "duras" vêm adregando no interior
da comunidade académica, e não só, mercê de um novo
e salutar espírito de curiosidade intelectual, razão
de ser primeiro da vocação investigadora e científica.
O CTEC
surgiu da necessidade, inevitável e natural, da evolução
e complexidade dos saberes, de se atender à emergência
de novos objectos e novos "limites" ao alcance
do conhecimento científico contemporâneo, resultado da
convergência entre disciplinas consolidadas e outras em
desenvolvimento. Os territórios do CTEC atendem,
sobretudo, à convicção de que não é mais possível
ignorar as profunda e potencias consequências de relações,
até há pouco indiscerníveis, entre a consciência
humana, a mente e o corpo. Importa aprofundar noções
de cérebro, mente e espírito; analisar,
experimentalmente, os chamados "estados modificados
de consciência", estudar as implicações dos
modelos holográficos e quânticos da consciência,
promovendo a compreensão das relações do ser humano
com o universo; testar e ampliar novas metodologias
exigidas pelas dimensões físicas e neurofisiológicas
como por exemplo, as experiências para-religiosas,
"próximas da morte", "fora do
corpo", onde se esbate a nossa actual definição
de Real.
A fundação
e instalação do CTEC, em 2001, enquanto unidade de
pesquisa avançada da Universidade Fernando Pessoa, visa
consagrar e desenvolver os pressupostos atrás
referidos. Os seus objectivos essenciais passam pelo
avanço na análise crítica, reflexão e compreensão
de:
- todos os fenómenos, processos e aptidões da
consciência humana, em si mesmo e na relação com o
mundo exterior, de acordo com as leituras mais
actualizadas de âmbito multidisciplinar;
- na observação
e avaliação comparadas das dimensões espirituais do
indivíduo, na pluralidade das experiências e manifestações
transhistóricas e transculturais;
- no estudo de hipóteses
e contributos inter e multidisciplinares que impliquem
com noções plurais de "meta-realidades", dos
seus contornos, codificações e interpretações
individuais e colectivos;
-
na avaliação e discussão
dos cenários expostos, dos seus problemas e
conceptualizações, no interior da comunidade científica,
nacional e internacional, compartilhando com os
investigadores e cientistas interessados, centros congéneres,
e a sociedade em geral, eventuais resultados, estudos
experimentais, teorias e hipóteses de trabalho
decorrentes da sua actividade.
As novas aquisições
globais dos enunciados anteriores poderão ser aplicadas
e incorporadas numa rede triangular de questões e
problemas, práticos e teóricos, cujas afinidades e
conexões prometem avanços conceptuais e concretos, a
saber:
1) A mente e a consciência nos domínios físicos
e biológicos: desordens múltiplas da personalidade (MPD);
percepção remota; medicina psicossomática;
psiconeuroimunologia; biofeedback; hipnose; treino
autogénico;
efeitos placebo; meditação/oração; dualidade
mente-corpo.
2) As energias subtis: bioelectromagnetismo,
relações entre campos magnéticos e saúde, efeitos
biológicos a baixas frequências (ELF).
3) As terapias
complementares e "energéticas" (soft
medicine): acupunctura, electroacupunctura e homeopatia,
toque terapêutico e cura à distância.
4) O estudo dos
comportamentos, atitudes e representações, individuais
e colectivas, face a estímulos de natureza
desconhecida, ambígua ou paradoxal, que podem gerar
reacções de diversa natureza, como crenças
para-religiosas, fenómenos metanóicos, psicossomáticos,
paranormais, entre outros.
O CTEC,
enquanto unidade orgânica da UFP, propõe-se actuar
como um forum para todos os investigadores e docentes
interessados nestes domínios da consciência e da
espiritualidade, procurando suscitar um continuado
debate interdisciplinar, e a actualização progressiva,
informativa e científica, nestes domínios, mediante a
participação de investigadores nacionais e
estrangeiros convidados, de centros congéneres, pela
promoção de conferências, workshops e seminários.
Parte integrante da sua intervenção didáctica é a
edição da revista anual Cons-Ciências, que procura
actualizar e dar a conhecer as abordagens teóricas e práticas
que se vão processando nestas áreas de fronteira,
servindo de plataforma de difusão de novas hipóteses,
novos investigadores e novos objectos científicos,
revelando o crescendo de investimento nas áreas
paradoxais do conhecimento que vão tendo espaço nos
centros de inovação estrangeiros, mais reputados e
rigorosos. Por certo, também pela Cons-Ciências se
espera promover o crescimento da nossa massa crítica
universitária, capaz de se votar e devotar ao estudo crítico
destes novos problemas e visões integradas do cosmos e
do ser humano. Por isso, inerente à vocação deste
Centro está a abertura da Escola ao exterior e às
novas apetências culturais e espirituais. Um Centro de
Estudos deste cariz não se reduz, apenas, ao trabalho
interno em redor dos objectivos enunciados; antes, pode
ser potenciador de investimentos que cabem no estatuto
da Universidade Fernando Pessoa, enquanto instituição
prestadora de serviços culturais à comunidade.
CTEC
Maio, 2005
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