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DIÁLOGOS


 

por JOAQUIM FERNANDES

 

 

 

 

1. Qual a posição da Ciência no que toca às chamadas "paraciências" e ao "paranormal" em geral?

 

- De um modo geral é de desconfiança, de recusa em considerar as reivindicações dos adeptos das chamadas "paraciências". As justificações dos cientistas são diversas, mas assentam, no essencial, no facto de muitas dessas experiências ou campos fenomenológicos escaparem ao crivo da verificação e da réplica experimental. Na esmagadora maioria trata-se de manifestações singulares, irrepetíveis, subjectivas, de fenómenos rebeldes a réplicas laboratoriais. Assim, não sendo possível novas induções, por diferentes grupos de investigadores, com os mesmos pressupostos, qualquer fenómeno alegadamente novo carece sempre de uma teoria explicativa que não dependa do observador. Certamente são estas as condições que se aplicam a fenómenos físicos, supostamente externos e objectivos. Há também outras reservas ou limitações, bem conhecidas do ponto de vista sociológico, que se prendem com as necessidades do investigador e do académico se subordinar às regras de consenso no interior da comunidade de que faz parte. Muitas vezes, este poder cerceia as potencialidades dos investigadores mais "ousados" concederem algum do seu tempo ao estudo das chamadas "anomalias" em Ciência, que sempre existiram como a "matéria escura" do conhecimento. Tal como a "matéria escura" ou "negra" que compõe uma larga porção da massa do Universo, do mesmo modo não podemos calcular a imensidade de factos novos, talvez contraditórias das teses agora consagradas, que abundam nesses territórios do desconhecido. Um outro factor que pesa, com frequência, na recusa dos cientistas em abordar as áreas paradoxais, tem a ver com a falta de informação que gera desconhecimento. Um ciclo que não se rompe, pois a ignorância do que se passa, por sua vez, mantém-se por falta de informação.

 

 

 

2. Que áreas, normalmente associadas aos limites do conhecimento ou além deles, têm hoje condições de serem acolhidas em centros de vanguarda e nos curricula académicos?

 

- É sabido que o nosso país tem mantido uma relação difícil, e geralmente em diferido, com as propostas mais ousadas da inovação e do conhecimento "heterodoxos". A situação periférica de Portugal, por desditas geo-históricas, tem contribuído para uma prolongada ignorância das abordagens mais do que poderíamos designar por NCT's - Novidades Cientificamente Transmissíveis. Sem mais delongas, e para uma informação definitiva, deixamos aos leitores uma lista sumária dos principais centros universitários e associações científicas internacionais que acolhem investigações correntes acerca de fenómenos anómalos, ainda não sistematizados, por isso "paranormais". A consulta aos links que propomos nesta página assegurará a indispensável actualização destas sugestões. Nos EUA: Parapsychological Association, membro (desde 1969) da prestigiada American Association for the Advancement of Science; Society for Scientific Exploration, com centenas de membros de todo o mundo, sediada na Universidade de Stanford; Laboratório de Investigação de Engenharia de Anomalias, da Universidade de Princeton (a de Albert Einstein): o Center for Counsciousness Studies, na Universidade de Tucson, Arizona; a cátedra de Parapsicologia na Universidade de Virgínia, desde 1969 (prof. Ivan Sanderson); Center for Psychological and Social Change, na Universidade de Harvard; Center for Frontier Sciences, na Universidade de Temple; a cátedra de Consciousness Studies na Universidade do Nevada (prof. Charles Tart). Na Europa: The Retropsychokinesis Project, na Universidade de Kent, Reino Unido; Koestler Parapsychology Fund, na Universidade de Edimburgo (prof. Robert Morris); Mind-Matter Project, no Laboratório Cavendish da Universidade de Cambridge, dirtigido pelo prof. Brian Josephson, prémio Nobel da Física; Project Anomalous Cognition, na Universidade de Amesterdão; Curso de Parapsicologia na Universidade de Utrecht (prof. Dick Bierman); Instituto para a Investigação Psicológica, na Universidade de Freiburg, Alemanha, fundado pelo prof. Hans Bender; Universidade da ex-Leninegrado (actual S. Petersburgo), e Fund Of Parapsychology, de Moscovo (dedicada ao prof. Vassiliev); No Japão: Sony Corporation Laboratory, o maior laboratório do mundo de estudos de fenómenos Psi, dirigido pelo prof. Yoichiro Sako; International Society of Life Information Science, na Universidade de Tóquio Denki.

 

 

 

3. Será legítimo integrar na actividade científica corrente o estudo de áreas problemáticas que, normalmente, são consideradas fora da intervenção autorizada das Academias?

 

- "A descoberta começa com a consciência da anomalia, ou seja, a impressão de que a Natureza, de uma maneira ou de outra, contradiz os resultados esperados no quadro do paradigma que governa a ciência normal". A frase é de Thomas Kuhn, um dos mais celebrados filósofos das ciências contemporâneos, autor de "A estrutura das revoluções científicas" (edição original, Universidade de Chicago, 1962), obra maior inspiradora e guia de frutuosas reflexões sobre o destino e finalidades da ciência, enquanto sistema organizador do "senso comum" da Inteligência, dos seus limites e actualizações e reajustamentos. E é precisamente pelas anomalias, enquanto factos desviantes, inéditos, que a validade dos paradigmas (teorias) começa a ser testada até ao limiar possível. A assimilação de novos factos ou fenómenos é muito mais do que um complemento que se acrescenta simplesmente a uma precedente teoria e, até que o reajustamento que ela exige esteja terminado (momento em que o homem de ciência tenha aprendido a ver a natureza de um modo diferente), o facto novo não é ainda um facto científico" - adverte o cientista, físico e professor no M.I.T., no seu ensaio capital sobre problemas centrais da epistemologia, em suma, dos limites temporais do Conhecimento e das relações do ser humano integrado com o universo integrador. Pensamos ser admissível e, mais ainda, desejável, a confrontação do que se conhece com as dimensões ousadas e as teorias estimulantes que insinuam atalhos na exploração do futuro do ser humano e do cosmos que o integra. "Haverá rasgões no espaço que dêem para outro lado ?" - assim se interrogava Fernando Pessoa na "Mensagem", em profética intuição sobre a complexidade do Cosmos e as revelações/revoluções constantes geradas pelas novas e magnas questões da macro e micro observação do que nos rodeia. Condicionado por três dimensões únicas a que normalmente acede o ser humano é um prisioneiro dos seus sentidos, das suas ilusões, fragilizado perante a virtualidade fenomenológica da Meta-Realidade inscrita, por exemplo, no vasto oceano do espectro electromagnético do qual partilha um ínfima fracção. Que dimensões adormecias se alojam no cérebro humano? Da fusão entre essa invocada inacessibilidade espectral e incapacidade cerebral, parece-nos pacífico que a resultante só poderá ser a de um indivíduo extremamente limitado e inseguro nas leituras que faz do universo que o acolhe.

 

 

 

4. De que modo ser entendida a sigla OVNI? Que leituras poderemos fazer dela?

 

- Independentemente de qualquer hipótese explicativa para as observações de fenómenos deste tipo, a "fenomenática" OVNI organizou-se gradualmente em mito contemporâneo, favorecido pelo próprio contexto civilizacional em que nos situamos - a idade da exploração espacial - que, logicamente, teria de produzir "extraterrestres" em digressão pelo nosso orbe, com intenções várias e procedências diversas: ora de um Além sem lugar, numa leitura mais religiosa, a intervenções de habitantes de um mundo tecnológica e civilizacionalmente muito superior, capaz de suprir as limitações sustentadas pelos pressupostos einsteinianos da velocidade da luz. O OVNI, deste modo, foi facilmente associado a visitas de engenhos voadores fantásticos, produzidos por uma ou mais civilizações ET cuja ciência será, deste modo, idêntica à magia (Lei de Clarke). Mito e realidade são, assim, de facto os contornos subjectivos e objectivos do problema, coabitam nele enquanto singularidade num implícito desafio epistemológico. O tema, por si, reclama uma evidente aplicação interdisciplinar e multidisciplinar, espécie mesmo de laboratório-tipo para a prática (crescentemente almejada pelos teóricos da filosofia das ciências, na busca de novos modelos e paradigmas) desse exame multímodo, holístico. Aparte o contexto mítico - extremamente proveitoso para uma observação directa das Ciências Humanas e Sociais, (Sociologia e Psicossociologia) porquanto se trata de um típico "myth in the making", a fenomenologia OVNI é por isto mesmo factual e concreta (numa tentativa de definição...): uma síndrome complexa de fenómenos (uma pluralidade de origens e causas ?) relativo a experiências e observações no ambiente próximo ao observador, de objectos e estruturas, luminosas ou não, de comportamento, duração e espacialidade, geralmente aleatórios, e cujas observáveis (natureza, propriedades, efeitos, cinética, forma, etc.), quando confrontados com os padrões correntes de fenómenos comuns e catalogados pelo conhecimento científico, não podem ser classificados, provisoriamente ou não, nessas categorias prévias da sistemática. Sendo impossível a classificação pela positiva, passa a sê-lo pela negativa, após esgotadas todas as alternativas "racionais" conhecidas, em termos de objectos e fenómenos conhecidos no estado actual da Ciência: donde, o não identificado do objecto ou fenómeno em referência, espécie de parêntesis semântico à espera, talvez, de novas categorias de compreensão, no sentido kantiano do termo, mas que não acarreta qualquer compromisso com procedências ou naturezas convencionais e, neste caso, popularizadas, por óbvia conotação e conforto de um espírito sem quaisquer outras referências: de facto, à opinião comum de uma subcultura urbana recheada de imagens-padrão específicas da nossa tecno-civilização espacial, difundias pelos media, pela literatura, cinema, etc., o OVNI tem de ser -só pode ser -extraterrestre porque representa o objecto-ideal-limite do-possível terrestre, a resposta mais óbvia e fácil, em termos míticos (no sentido que lhe deu Levi-Strauss) para o inextrincável desafio científico que "ele" e as suas observáveis sugerem. Mito todavia complementado pela realidade, pois, para lá das implicações míticas já consideradas, há que considerar as tais componentes físicas de fenómenos e objectos não identificados, susceptíveis de avaliação não-subjectiva: marcas, efeitos secundários de ordem psicossomática e fisiológica em seres humanos, efeitos registados no ecossistema, em instrumentos (radar, equipamentos de bordo de aeronaves, etc.) documentos fotográficos e vídeo, p.ex. Há, assim, elementos encorajadores e suficientes para que seja possível e desejável uma investigação científica plena dos fenómenos aero-espaciais não identificados, vulgarmente chamados OVNI (acrónimo sem plural e não substantivo...) - que vai do registo pessoal, morosamente documentado em todos os seus parâmetros até à recolha de indícios materiais, passíveis de fornecer pistas coerentes e inteligíveis em termos de relação causa-efeito, etc.- e que recusa qualquer posição a priori, preconceituosa e tem que ter em conta metodologias rigorosamente testadas, intervenções no terreno seguras e competentes em condições absolutamente controladas, sobretudo no caso em que há necessidade de despistagem de resíduos ou medição de elementos da bioquímica os solos, etc. Qualquer contaminação, involuntária que seja, pode deturpar leituras e anular os resultados pretendidos. Dada a existência na comunidade científica de investigadores disponíveis para estudar esta questão, entende-se ser possível uma abordagem séria, objectiva e rigorosa, que se afere pelos padrões e critérios metodológicos do conhecimento adquirido, do complexo fenomenológico definido pela sigla OVNI. Entre nós, por exemplo, a Comissão Nacional de Investigação do Fenómeno OVNI, fundada em 1983, pugnou ao longo da sua existência por um exame desapaixonado, competente e crítico destas questões em sede própria, e não com base em "leituras" e tratamentos jornalísticos que não favoreceram a abordagem e o exame ponderado de todas as suas vertentes. Antes pelo contrário, prefere-se a abordagem pelo lado do espectáculo, que leva facilmente à desqualificação social dos testemunhos e das testemunhas, sem se cuidar de implicações éticas e de protecção das mesmas, como é norma de qualquer sujeito co-participante em processos investigativos, correntes em Ciência. Tais "leituras" afiguram-se, assim, pouco consentâneos com o interesse, seriedade e empenhamento de uma vasta comunidade científica internacional destas áreas da "marginalidade" dos saberes, infelizmente ignorada pelos media.

 

 

 

5. Quais são os principais obstáculos que impedem uma adequada compreensão do significado estrito da sigla OVNI e uma correcta avaliação dos fenómenos que envolve, para lá da sua dimensão mítica recuperada pela cultura popular e contemporânea?

 

- Estas manifestações pertencem às áreas de "mistério", esotéricas, inacessíveis à experiência quotidiana do vulgo e situam-se no mesmo quadro de impossibilidades vividas apenas pelos "outros". O fenómeno OVNI coincide com o imaginário "extraterrestre", destacando-se pela carga emocional equivalente à fé e à crença. A função da crença, como fulcro valorativo de verdade/inverdade surge, precisamente, pela carga mítica que tem sido associada a estes eventos "extraordinários", invulgares. A intervenção do ET não se consegue racionalizar: aceita-se ou não. E daí a crença/descrença, sem mediação de um processo de análise silogística. O irracional moderno, actualizado e representado pelo fenómeno OVNI, tal como as bruxas do período pós-tridentino, encontra-se, compreensivelmente no gueto das impossibilidades, porque como diz o professor Carvalho Rodrigues "é o sentimento que mede estes fenómenos raros, pouco frequentes (ou acessíveis), porquanto estamos habituados a fazer medidas de crença de tudo e também destes fenómenos muito fora do contexto", não apreendidos e organizados ("domesticados") ainda pelos nossos sistemas de crença". Daí se "entenda" o ambiente esotérico "injectado" na sequência de alguns casos portugueses, como o de Pedrogão Grande, com as imagens de uma seita israelita messiânica à espera dos ET Superiores tecnológicos, aguardados no século XXI em singular "ETódromo"... Pensamos seriamente que a factualidade tipo OVNI merece uma melhor e aperfeiçoada atenção da parte dos orgãos de Comunicação Social. Sugere-se também que esse eventual acompanhamento seja conduzido por um discurso e linguagem adequados, objectivo e "neutro", fundamental para o exercício e tratamento das questões científicas e técnicas, que exigem rigor e formação específicos, recorrendo a especialistas que trabalham directamente nestas questões; pela recusa da ironia fácil (é tentador brincarmos com o que se desconhece, talvez para o exorcisarmos melhor, remetendo-o para a "matéria negra" do inconsciente), transcrevendo a experiência alheia sem introduzir convicções pessoais empíricas e, sobretudo, atender à possibilidade de pessoas comuns, vulgares, puderem ter sido surpreendidas por fenómenos que até então desconheciam ou não puderam identificar de acordo com os seus referentes informativos. Cabe, pois, à investigação científica verificar da legitimidade das suas suspeições, podendo ou não concluir-se que os alegados factos têm (poderão ter) explicações bem prosaicas - num quadro aberto e amplo de hipóteses de trabalho, não exclusiva - o que não invalida a provável boa fé das testemunhas, porventura incapazes ou não informadas de muitas das alternativas racionais à sua (deficiente) interpretação.

 

 

 

6. A Ciência aceita a possibilidade de sermos visitados, de vez em quando, por civilizações extraterrestres a bordo de naves espaciais que hoje definimos como OVNI's ?

 

- Esta questão não depende da discussão sobre a natureza dos chamados "Objectos Voadores Não Identificados", que a cultura popular mediática ajudou a construir como sinónimo de "nave espacial extraterrestre". A inexistência de "verdadeiros" OVNI's de procedência ET não anula a forte possibilidade de existência de civilizações alienígenas, com uma capacidade sócio-tecnica e científica infinitamente superiores à nossa, na ordem dos milhares ou milhões de anos, o que eventualmente lhe concederia a capacidade de viajar no espaço, tal como nós hoje viajamos nas imediações do nosso planeta. As hipóteses de termos sido, sermos ou vir a ser visitados é débil, perante as distâncias fabulosas (à escala das nossas dificuldades de locomoção actuais, é evidente) é débil, mas não implausível.

 

 

 

7.  Qual o caso português que possa ser interpretado, à luz dos conhecimentos actuais, como um eventual protótipo de OVNI?

 

- Existe uma sequência de fotos tiradas a um objecto voador em de Alfena (Valongo), nos arredores do Porto, em 10 de Setembro de 1990. Este caso ocorreu cerca das 9 horas da manhã, tendo sido recolhidos mais de 40 testemunhos que, em diferentes locais da zona, registaram as evoluções de um objecto voador atípico, em forma de globo, com aparência metálica e cerca de 1,5 a 2 metros de diâmetro. O engenho tinha um comportamento errático, deslocando-se a cotas relativamente baixas, dando a impressão de uma máquina comandada à distância. Uma das testemunhas conseguiu fazer 4 fotos ao referido objecto. A análise do filme confirmou as descrições das testemunhas, que foram inquiridas no terreno pouco mais de 24 horas depois da observação. A então Comissão Nacional de Investigação do Fenómeno OVNI (CNIFO) reuniu o máximo de informações sobre o incidente e coordenou os passos seguintes da análise fotográfica feita inicialmente no Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial (INETI) com a colaboração do Prof. Carvalho Rodrigues e do Dr. Bento Correia. Depois, foram consultados os especialistas da Agência Espacial de Toulouse, concretamente do SEPRA, uma agência vocacionada para o registo e estudo das anomalias aeroespaciais, através do Eng.º Jean-Jacques Velasco e, mais tarde, foram promovidas novas análises, quer nos Estados Unidos quer na Alemanha. No primeiro caso, as fotos de Alfena foram analisadas pelo Dr. Richard Haines, que trabalhara no Ames Research Center, da NASA e, no caso da Alemanha, pelo Dr. Illobrand von Ludwig, físico do grupo MUFON/CES. Ainda hoje persistem dúvidas sobre a classificação positiva do "ovni de Alfena", ou seja, não se pode afiançar, sem sombras de dúvidas, que tipo de engenho evoluiu nos céus de Alfena. E sobretudo a intrigante questão da sua finalidade: porquê, ali, àquela hora da manhã...

 

 

 

8.  Além dos RPV¹s, que outros objectos voadores podem convencer o cidadão comum que está a presenciar o aparecimento de um disco voador?

 

- Balões e sondas meteorológicas de todo o tipo, que o observador pouco preparado ou mais distraído pode interpretar erroneamente; veículos teleguiados militares que as grandes potências têm vindo a desenvolver, com destaque para os protótipos já utilizados na primeira Guerra do Golfo; até mesmo um simples avião comercial - isto para as situações nocturnas - pode confundir-nos, dependendo do ângulo da trajectória e da nossa perspectiva; as inúmeras experiências incógnitas feitas na atmosfera terrestre e nos seus limites e por fim, os fenómenos naturais, desde meteoros lentos a plasmas e outras fontes que pela sua complexidade e surpresa, se podem transformar em estímulos para narrativas mais ou menos insólitas.

 

 

9. Para além de Alfena, quais os casos mais intrigantes de Objectos Voadores Não Identificados registados em Portugal nas últimas décadas?

- Além do caso referido, pelo envolvimento de tantas testemunhas e a qualidade das fotografias -independentemente do factor "estranheza" acabar por ser reduzido face à hipótese, muito forte, de se tratar de uma espécie ignorada de RPV - costumo eleger o caso de Montejunto, de 2 de Novembro de 1982, em que dois aviões de treino da FAP, com três pilotos da base da Ota, avistaram na região e seguiram as complexas evoluções de um objecto oval, de estrutura metálica, brilhante. Os militares ficaram convictos das invulgares capacidades aeronáuticas, de aceleração e manobra do engenho que não conseguiram identificar positivamente. Na ocasião foi-nos possível proceder a um demorado inquérito no terreno, com a exemplar colaboração da Força Aérea Portuguesa.

 

 

 

10. O fenómeno conhecido por "crop circles" pode ser invocado como argumento na defesa da existência de Objectos Voadores Não Identificados?

- Não se pensa que esse fenómeno constitua um argumento em defesa do que quer que seja. Sendo certo que existem tradições, e até registos gráficos desses "signos" nas searas, que remontam ao século XVII, em Inglaterra (o seu "país de eleição" !), a intervenção humana na fase mais recente da sua história dos "crop", incluindo a réplica desses efeitos em anúncios publicitários de automóveis, por exemplo, situa a questão numa esfera pouco crítica e à mercê de oportunismos e manipulações diversas, o que impede uma estratégia de abordagem científica séria do problema.

 

 

 

11. O que representa o projecto sobre os «portugueses e os extraterrestres»?

 

- Este projecto está a ser desenvolvido no CTEC, na Universidade Fernando Pessoa, e trata-se da primeira mega-análise que tem por base uma rica e vasta massa documental produzida entre os anos de 1940 e 2000 em Portugal. Ou seja, estamos a estudar, partindo de uma "grelha" de avaliação das informações, toda a gama de representações iconográficas sobre o universo ET e demais elementos das cerca de 700 narrativas em primeira mão relativas a descrições de fenómenos tipo "ovni". Pretende-se evidenciar, sob as mais diferentes perspectivas disciplinares, da Psicologia Social à Antropologia, passando pela Semântica, Ciências da Comunicação, Sociologia, etc., toda a riqueza de um "caldo" cultural que os observadores evocam quando foram solicitados a preencher um questionário sobre o que observaram. A equipa de cerca de uma dezena de investigadores do CTEC vai procurar destacar, por exemplo, todas as influências, leituras, desejos, memórias dos portugueses que, num dado momento, testemunharam algo de estranho nos céus do seu país. Contamos editar uma antologia, na nossa colecção "Ciência e Consciência", em parceria com a Ésquilo Editora, com análises e abordagens inéditas e que julgamos inovadoras no panorama académico nacional e até mesmo internacional.

 

 

 

12. Como se explica o facto de milhares de pessoas em todo o Mundo manterem um enorme fascínio pela possibilidade de um contacto com outras civilizações e culturas extraterrestres?

 

- Diz-se que Einstein confessou um dia que "o mistério promete sempre as mais belas experiências". Neste aspecto particular, o desejo de procurar o Outro entende-se como um sinal da nossa angústia face a uma impensável solidão cósmica. O "estarmos sós" é algo que atormenta o nosso inconsciente, ainda que não o saibamos. Faz-nos sentir perdidos, atónitos, como o filósofo Pascal, perante o Infinito que não compreendemos e, talvez daí, como que órfãos à procura de um Pai. Época após época, conquista após conquista, o "mistério profundo" e o inexplicável resistem. Sob renovadas formas, mais ou menos religiosas. Não são os ET's objecto de culto nos nossos dias? Desiludam-se os que possam pensar no esgotamento do misterioso, na explicação definitiva do cosmos em que nos integramos. À medida que se alargam as nossas fronteiras do conhecido, aumentam proporcionalmente as margens do que ignoramos. É um ciclo eterno, até à consumação do nosso universo local do sistema solar, ao que parece devorado pela nossa estrela no seu estertor final.

 

 

 

 

  Joaquim Fernandes, Novembro 2004.

 

 

 

 

 

 

 

 

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